January 23, 2009

Mundo, sendidos e violência

O site Mix Brasil, um dos sites mais ativos em termos de noticiar o mundo gay brasileiro publicou, ontem, a matéria "Pintada", com a chamada “Sede de grupo militante LGBT de Porto Alegre é pichada por neonazistas”*. Vi a chamada para esta publicação pelo site do UOL Gay, que visito diariamente. Imediato foi um sentimento de perplexidade com mais um comportamento mediano e irrefletido de extremistas. Qual o sentido de utilizar o símbolo de um mundo “pretérito” de horrores, como o nazismo? Prefiro pensar que é o desespero de subjetividades edificadas sobre instituições tradicionais, cuja existência é comprometida por um mundo que se anuncia divorciado de seus valores.

* (http://mixbrasil.uol.com.br/mp/upload/noticia/6_77_70926.shtml)

Publiquei um pequeno comentário sobre uma análise preliminar no final da matéria, e o ato dos vândalos, nela denunciado. Segue o meu comentário.

Concordo, em absoluto, que o agravo cometido contra a sede do Grupo SOMOS é um fato de estrema preocupação. Esse ato é exemplar de uma violência que ainda é base de edificação de valores e comportamentos em nossa sociedade. A violência direta cometida contra cidadãos, e a violência simbólica contra locais ícones do universo gay, precisa ser, legalmente, passível de punição. Dada a estrutura legal brasileira, uma legislação nacional deste cunho é imperativa. Contudo, gostaria de poder discordar, parcialmente, de um ponto levantado na matéria: “(...) a pichação só prova o quanto a sociedade ainda tem que evoluir para garantir o reconhecimento da igualdade entre os cidadãos brasileiros”. A meu ver, a pichação prova, também, o quanto a sociedade ainda precisa trilhar novos caminhos.

Por outro lado, a pichação pode estar apontando o quando a sociedade brasileira vem se transformando. Quando observamos a “colonização” dos espaços públicos por pessoas de orientação homoafetiva, percebemos o quanto uma transformação é imposta e vivida em espaços públicos e privados. Assumir que a sociedade contemporânea não é mais aquela em que a aparição pública de homossexuais estava condicionada às “violências sofridas”, é um instrumento poderoso para demonstrar que “a pichação” sofrida pelo Grupo SOMOS, também pode ser um ato de desespero de um tradicionalismo que cada vez mais perde seu espaço de dominação. Reafirmo a minha total indignação com a violência dirigida, mais uma vez, aos representatividades dos direitos de homossexuais, e aproveito este espaço para provocar uma reflexão sobre os discursos que construímos sobre nossas lutas.

2 comments:

André Cardoso said...

Acho engraçado você falar sobre os discursos que construímos sobre nossas lutas. que lutas cara-pálida?

Unknown said...

Murilo, sei que é tarde, mas vale dizer que gostei muito dos comentários tecidos a respeito da repercussão da eleição da Leocrete. Na verdade, o texto dialoga muito com um que escrevi no fim do ano passado sobre a temática.