October 09, 2010

Respostas em tempos de paixões e 2° turno eleitoral.

A seguir, uma resposta minha para a afirmação irresponsável e venosa: “FILÓSOFOS? QUE NADA!!!! A MAIORIA SÃO PELEGOS DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS, 99% DE GREVE!!! AS FEDERAIS ESTÃO ENTRE AS PIORES INSTITUIÇÕES DE ENSINO DO BRASIL... E CERTAMENTE DEVEM TER INGRESSADO NO CORPO DOCENTE NO GOVERNO PT...POR "QI" !!!! ME FAÇAM UMA GARAPA....” registrada no Orkut por um eleitor do PSDB (http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=17441994823023798408), motivado pelo “Manifesto Filósofos Pró-Dilma” (http://bit.ly/c1vdVC), a convite de Caíque, eleitor de Dilma, que vem usando seu Orkut para ajudar a desfazer boatos veiculados sobre sua candidata.

Farei uma brevíssima explanação sobre a situação das "PIORES INSTITUIÇÕES DE ENSINO DO BRASIL", a partir de minha experiência e algumas relações acadêmicas que cultivo. Para tanto, deixarei de lado reconhecidos, nacional e internacionalmente, centros de saber do Brasil, aqueles situados no eixo sul-sudeste. Atenhamo-nos a duas instituições, a UFBA e a UFS, as federais da Bahia e de Sergipe. Agrego ao argumento, melhor, derivo do argumento, como atributo lógico, de que seriam as universidades federais as piores do país, que no Nordeste jazem verdadeiros antros. Tal assertiva lógica não seria vil, na medida que ao afirmar que as federais são as piores, o tradicional debate sobre a estrutura da UFBA, por exemplo, vem à tona, como se isso fosse suficiente obstáculo para o cultivo da produção acadêmica por dedicados intelectuais que formam uma elite ilustrada. Penso que, ao menos, estou antecipando um futuro argumento que pudesse ser reivindicado para sustentar a tese das malogradas instituições federais.

Aos fatos, para não continuarmos em hipóteses sem fundamentos e irresponsáveis, como porcentagens da ordem de quase totalidade que figuram neste debate. Antes, entretanto, já que o argumento envolve paixões PSDBistas e PTistas, afastar-me-ei de críticas ao sistema de avaliação e qualificação da pós-graduação e dos pesquisadores de ponta no Brasil, e tomarei como parâmetro o sistema da “agência” CAPES como hoje é aplicado - idealizado no governo FHC e mantido no governo Lula. Ou seja, tal parâmetro foi respaldado por ambas administrações, o que a torna medida isenta, a priori, neste embate “político”. Tomemos como modelo da extrema qualidade do ensino das universidades federais, no Nordeste, logo também no Brasil, a situação do programa de pós-graduação o qual me vincula à UFBA, e um intelectual da UFS e, a saber, um FILÓSOFO, amigo muito querido. (Tomo situações concretas para não alimentar esse debate com hipóteses descoladas da vida, assumindo o risco de não referir a tantos outros fenômenos)

Recentemente, há um mês – no máximo – o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da UFBA teve o esforço e dedicação de seu quadro docente e discente reconhecido pela supracitada agência, não só através da elevação de seu conceito de quatro para cinco, mas com indicação de seis, numa escala que se encerra em sete. A CAPES avaliou a produção intelectual e de difusão do conhecimento no patamar máximo. Estamos falando de uma avaliação nacional, cuja comparação é um dos elementos que influem em seu resultado. O que ficou então constatado é que na Bahia, a despeito de quaisquer críticas à UFBA, se produz conhecimento de qualidade e que alcança instituições internacionais. Aliás, registrem-se: as cooperações internacionais que o PPGCS celebrou pesou para sua feliz avaliação. Advirto, desde já, que não concordo integralmente com a crítica estrutural (física) que se FAZIA às universidades federais, pois nos governos Lula, um denso plano de reestruturação foi posto em prática e está refletido na transformação da UFBA em um verdadeiro canteiro de obras. Por outro lado, há que considerar o plano de interiorização das federais que tem expandido o sistema de ensino superior, fazendo cumprir a Constituição brasileira de difundir pelo território o sistema de ensino universitário. Prova disso é a situação da Bahia que antes contava apenas com a UFBA.

Por fim, vejamos a situação do filósofo da UFS, que foi jogado, irresponsavelmente, na máxima “PELEGOS DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS, 99% DE GREVE!”, como se houvesse sentido em relacionar “pelego” e “greve” para desmerecer intelectuais de renome internacional. O exemplar filósofo de Sergipe, que é sergipano, doutor pela Universidade de Paris X (título sublinhado aqui para mensurar a qualidade do ensino nas universidades federais brasileiras, instituições cujo sistema é parâmetro nacional para a Europa e Estados Unidos), foi no ano passado premiado pela CAPES (de FHC e LULA) com uma bolsa produtividade. Esta bolsa é uma contrapartida para os pesquisadores tidos pela agência como referência em suas áreas de conhecimento e aqueles que comporão o quadro de consultores da CAPES, ou seja, os intelectuais que regulamentarão, avaliarão e referendarão a produção de conhecimento no Brasil. Este reconhecimento brasileiro ao filósofo, diga-se, foi posterior ao reconhecimento internacional na medida que ele tem sido reiteradas vezes convidado por instituições francesas, italianas e canadenses para ministrar cursos e compor mesas em Terras distantes.

Portanto, as expressões “FILÓSOFOS? QUE NADA!!!!” e “AS FEDERAIS ESTÃO ENTRE AS PIORES INSTITUIÇÕES DE ENSINO DO BRASIL” são mera retórica sem lastro para trazer à baila paixões partidárias que impedem um diálogo, na contramão do uso que tem sido feito de novas mídias, como o Orkut. Por outro lado, macula a imagem do trabalho dedicado de profissionais que edificam, para além de governos, um sistema brasileiro internacionalmente validado. Se as federais são as piores do Brasil, como pode o Brasil figurar na cena acadêmica internacional. Como pôde Fernando Henrique Cardoso, intelectual brasileiro ser referência de leitura obrigatória para os estudantes de OXFORD? FHC foi discente e docente de uma universidade brasileira estadual cuja estrutura equivale a tantas federais que contribuem para legitimar nossos intelectuais mundo a fora.