July 30, 2008

Podemos ser, assim?

Hoje estou especialmente irritado com Salvador e com o estilo de “pessoa” que se (con)forma aqui. As coisas aqui na terrinha vão mal... Cada vez mais, alguém próximo a você chega e lhe diz: “fui assaltado”, “fui roubado”, “minha casa foi invadida”. Quando não são pessoas de bairros “periferizados”: “fulano morreu”, “ vi X corpos no caminho de casa”, “ a polícia matou tantos”. Essa semana estava no Shopping Barra conversando com um paulista e ele falava do medo de Salvador. Ele vive entre Salvador e São Paulo, com mais tempo São Paulo. Aqui, ele já foi assaltado nove vezes e nenhuma em sua cidade. Eu tenho essa mesma impressão. Em todas as minhas idas à Sampa, com alguma cautela, sempre uso minhas mochilas com máquina, carteira, algum dinheiro e nunca fui assaltado, sequer tive a mochila aberta em eventos como a gigantesca Parada Gay – a maior do mundo. Esse aumento das notícias próximas, considerando o lugar de pessoas de camadas médias, corrobora a imponência que a violência recobre-se nos jornais e noticiários.

Pergunto-me: Porque essa violência? Quem são as pessoas que a cometem? Há solução? Que estrutura de sociedade recobre essa qualidade de “Pessoa”? Sinceramente, não sei responder, mas desconfio que essa disposição para a violência seja muito mais “cotidiana” e “natural” do que mera reação às carências sociais. Claro, que o contexto de precariedades econômicas, sociais, raciais, de gênero que expropriam subjetividades do direito à cidadania plena tem sua parcela de responsabilidade. Não duvido disso, antes o contrário. Entretanto, pergunto-me quanto àquele grupinho de seis amigos que em “fevereiro” tomam um ônibus, vão para o Circuito Dodô diverte-se “dando porrada em gente”. Pergunto-me quanto à frase que ouvi de um amigo em formação policial: “quero que chegue logo as festas de largo... tô doido para descer a porrada em um”. Pergunto-me ainda quanto às interrogações que diz um amigo ao saber que um dos seus fora agredido: “onde foi? Vamos pegar esse sacana?”. Por fim, pergunto-me porque essa “naturalização” da agressão é algo que está no dito do dia-a-dia dos soteropolitanos? Sempre foi assim? Há algo que diferencie uma “Pessoa” de Salvador da “Pessoa” de outras capitais? Não sei... só, desconfio.

Desconfio da apologia à guerra feita por um grupo social dessa cidade no dia 25 de julho, em meio às suas manifestações. Desconfio de individualidades policiais que entram nos bairro “periferizados”, “blindados” por uma instituição e matam covardemente, escondendo-se depois numa farda que é vestida por muitos outros. Desconfio da diversão momesca que precisa da agressão ao outro para a publicização e afirmação de uma identidade (a mesma diversão familiar às festas de largo). Desconfio dos amigos que para defender os seus revidam e não acionam e exigem a aplicação das penalidades sociais, por “delegados da sociedade”.

Enquanto todos se armarem contra todos, a institucionalização de disposições que respeitem a integridade e os direitos democráticos não se solidificarão em maneiras de ser e agir. Precisamos, com urgência aprender que na rua, mundo público, há o outro que precisa de segurança para construir uma vida relacional. Em que cidade viveremos se, andando pelas ruas, desconfiarmos das pessoas que vêm em nossa direção? Em que cidade viveremos com medo de ir para a escola ou para a universidade? Em que cidade viveremos se o medo de ser suplantar as maneiras criativas e diferentes de “gestuar”, “vestir”, “entonar”, “crer”, “relacionar”, “confiar”? Querem uma indicação de cidade, frente aos poucos lugares que conheço? Chicago.

July 22, 2008

Welcome back, but in portuguese!

Queridos, resolvi, novamente, voltar a publicar no meu blog. Há algum tempo, tento fazer isso, mas sempre deixo para depois em meio a pequenas incertezas. Acho que essas prorrogações são motivadas por uma pitada de medo do crivo de leitores cuja opinião importa (“pré-ocupa”). Não interessa agora nomear esses leitores que me ocupam no momento da escrita para não menosprezar faculdades desinteressantes. Não pensem vocês que isso é medo de quaisquer comentários negativos e/ou previsíveis, é receio de intelectos capazes de ir além do dito e comentar o não dito, a parte mais interessante e orgasmática de um texto. Com isso, quero alertar que não mais me importarei com os comentários aqui postados ou enviados para o e-mail, comentários como os de outrora advindos de espíritos aprisionados em suas convicções.

Sejam muito bem-vindos a minha “janela da alma”. Estejam à vontade para vasculhar um mundo povoado de sentido, mas obscurecido pela crença na incompletude de um mundo eventual. Comentem, gritem, riam, ignorem, mas jamais tentem análises pífias e triviais. Não me incomodo com muito. Aceito o que dizem os seres imbuídos de um “modo de ser” cristão, pois para esses, olho como sendo “mais um”. Aceito os espíritos que sobrevoam o mundo, pois desses “desprendidos” pouco se pode esperar em profundidade e sensibilidade. Contudo, não aceito aqueles que se sentem “capazes de ver” o que “todos os outros não conseguem ver”. Eu desprezo esses últimos, pois a inconsistência de suas expressões são incapazes de refletir parte alguma do Turbilhão da Vida, ou de qualquer vida.

Apenas uma advertência: não esperem de mim posições sólidas e imutáveis. Eu não sei o que sou ou que serei, mas uma vez tendo sido posso seguir vivendo a vida que se faz no encontro, e que me toma.